Este membro da família canina cujo nome científico é Lycaon pictus habita exclusivamente na África. Até 50 anos atrás podia ser encontrado em todo o continente no sul do Saara, mas na atualidade está em sério perigo de extinção e foi praticamente erradicado no oeste de África e seriamente diminuído o seu número no centro e no oeste. Os grupos maiores encontram-se no sul da África e no sul da África oriental. Depois do lobo-etíope, é o carnívoro em mais sério perigo de desaparecer em África.
Como é o cão-selvagem-africano?
O cão-selvagem-africano tem um aspeto que resulta bastante raro. A sua pelagem apresenta um padrão de manchas irregulares de cor preta, amarela e branca. O seu corpo é alto e esbelto, com um peso adulto que varia entre os 17 e os 36 kg e uma altura de até 75 cm; este tipo físico está preparado para a velocidade e resistência. Tem grandes orelhas características, que lhe servem para se comunicar com os seus congêneres ao movimentá-las em diferentes direções, também lhe proporcionam uma excelente audição e ajudam a eliminar calor do corpo. Diferenciam-se dos demais membros da família canina em que apenas têm 4 dedos nas patas dianteiras.
A fisiologia do cão-selvagem-africano é muito similar à dos cães domésticos; têm um período de gestação que vá desde 60 a 80 dias e podem reproduzir-se em qualquer época do ano, com um pico entre Março e Junho, na segunda metade da temporada de chuvas. Uma vez por ano nasce uma ninhada de aproximadamente 10 cachorros em média (podem nascer até 21 irmãos!) e todos os adultos colaboram no seu cuidado e manutenção. Quando os pequenos tiverem três meses abandonam a toca e começam a seguir a canzoada, e para os 8 a 11 meses já podem matar presas fáceis. Só após dois anos é que atingem a maestria na arte da caça.
Alimentação e caça
Os cães-selvagens-africanos são carnívoros caçadores. A dieta varia em função do animal mais abundante na região onde vivem. As presas mais habituais são os impalas, gazelas Thomson, cudos, javali africano, antílopes, zebras, e outros similares. São especialistas em caças em grupo, preferentemente de manhã e no anoitecer. As horas do dia as passam a descansar na sombra de alguma árvore ou perto da água. Graças ao seu corpo magro e longas extremidades são capazes de atingir uma velocidade de 66 km/h e manter uma persecução durante uma hora; costumam fazer turnos para continuar a correr e cansar a sua presa.
O cão selvagem africano utiliza um sistema de comunicação com diferentes sons e berros que é muito eficiente; serve para a caça, para quando um membro da canzoada perdeu-se, etc. A colaboração entre os membros da canzoada para caçar animais grandes dá uma alta percentagem de êxito (aproximadamente 70 a 90%), mais que os leões e outros predadores. Uma vez que tiverem conseguido matar uma presa devem apresar-se para comer antes que cheguem os leões e as hienas a roubar a sua ração. Também podem caçar presas pequenas, como lebres, em forma individual.
Durante a maior parte do ano os cães-selvagens-africanos movimentam-se de um sítio a outro do seu território constantemente, possivelmente detrás de presas. Apenas uma vez por ano a canzoada se detém com o fim de cuidar dos cachorros da nova ninhada. Durante uns três meses os adultos não se afastam demais da toca onde se criam os pequenos. Depois de apanhar uma presa os que têm prioridade para comer são os cachorros, mesmo antes do casal dominante. A comida partilha-se com todos os membros da canzoada, mesmo se não participaram na caça. Se algum cão estiver ferido ou debilitado, outro lhe aproxima a comida.
Comportamento do cão-selvagem-africano
O grupo social é quase o mais importante entre os cães-selvagens-africanos. É composto basicamente por um casal dominante que procria, um grupo de adultos que não o faz e a descendência sob o seu cuidado. O número de membros é usualmente entre 8 e 15 cães. O grupo é muito unido, e tem a peculiaridade de que todos os machos são parentes entre si, e o mesmo as fêmeas, mas não são parentes entre sexos. Isto é devido a que entre os 14 e os 30 meses as fêmeas irmãs abandonam o grupo familiar e juntam-se a outro grupo no qual faltem fêmeas em idade de procriar; já os machos não abandonam o seu grupo de origem.
Cada sexo tem um sistema de hierarquia separado, e apenas os dominantes de cada escala social procriam. Os membros de cada grupo são muito unidos. Ante situações de conflito, como a competência pela comida, ambos adversários tomam atitude de submissão e se evita qualquer briga desnecessária.
Ameaças do cão-selvagem-africano
A principal causa da diminuição constante no número destes cães é a aversão que provocam nas pessoas e a má fama que adquiriram de serem ladrões de gado. Há muitos exemplos na literatura de como se considera a estes cães como feras desagradáveis, imagens do mesmo demónio, enquanto se enaltece o leão, que é muito mais preguiçoso, agressivo e acaba por roubar as presas dos cães abusando do seu tamanho e força. Desde sempre se mata ao cão-selvagem-africano em toda oportunidade com disparos ou veneno. Ultimamente adicionam-se os acidentes com veículos, devido à maior quantidade de estradas que atravessam o seu território. A expansão dos territórios ocupados pelos humanos faz com que os cães devam recuar cada vez mais. Dentro das causas de morte naturais mais frequentes é a matança por parte de leões, especialmente nos cachorros.
Atualmente no Parque Nacional Kafue, em Zâmbia, há um projeto destinado a estudar e conservar estes cães em perigo de extinção. Este extenso Parque tem uma das maiores populações viáveis cão-selvagem-africano. Com a ajuda do Zoológico de San Diego (Califórnia) realizam-se diferentes tipos de investigações destinadas a conhecer o seu sistema de comunicação e relevar as populações existentes no extenso parque.